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Não há prova alguma de que desarmar a população reduz a violência. A principal batalha tem de ser o desarmamento dos criminosos



No dia 1º deste mês tive a oportunidade de ouvir, na íntegra, uma entrevista que o comandante da Polícia Militar de Goiás, coronel Divino Alves, deu à rádio CBN. O comandante discorreu sobre a corporação, planos, dificuldades, efetivo, modo de operação. Respondeu prontamente às perguntas dos ouvintes. Fiz questão de acompanhar o depoimento, não só por me interessar pela questão da Segurança Pública, como por ver nela um dos mais cruciais desafios que o país enfrenta no momento. Por outro lado, embora não próximo, conheço pessoalmente o coronel Divino Alves, cujas qualidades de seriedade, inteligência, liderança e empenho em seu trabalho reconheço. Concordei com 90% de suas colocações. Em seu lugar daria as mesmas respostas que deu a todas as perguntas que os ouvintes a ele dirigiram, exceto uma ou duas. Aponto no que divirjo e explico porquê.
Em determinado ponto de sua fala, o comandante apresentou as estatísticas da operação policial-militar no Estado de Goiás, com os números referentes à apreensão de drogas e de armas. E acrescentou: “Quanto menos armas em circulação, menos crimes”. Meu primeiro reparo: diria que, quanto menos armas em circulação nas mãos de marginais, menos crimes. As armas nas mãos legais não são fontes de criminalidade, e são importante força de dissuasão frente a criminosos. Não duvide o coronel Divino que o assustador crescimento no número de latrocínios, assaltos à mão armada e estupros deve-se, em boa parte, à política de desarmamento imposta pelos governos de esquerda, que nos afligiram por mais de 20 anos.

Não é o desarmamento o principal responsável pelo descalabro da mortandade violenta brasileira, pois em primeiro lugar está a droga. Mas arrisco-me a dizer que é o desarmamento ideológico do cidadão, impedindo que ele defenda sua vida, sua família e seu patrimônio, o segundo motivo pelo qual chegamos ao patamar de criminalidade onde estamos.
Digo, meu caro coronel, para sua reflexão: o assaltante — principalmente o assaltante armado, que conhece o poder de uma arma de fogo — teme mais a possibilidade de assaltar alguém que vá reagir e lhe dar um tiro do que encontrar um policial militar seu comandado. Não, não estou delirando. Isso que afirmo foi uma inusitada descoberta de um dos maiores estudos feitos sobre criminosos armados no mundo, publicado com o nome de The Armed Criminal in America (O Criminoso Armado na América, ou Relatório Wright-Rossi).
Os professores James D. Wright e Peter H. Rossi, da Universidade da Flórida, publicaram em 1985 esse trabalho, feito por encomenda do Departamento de Justiça americano. Não há no mundo outro estudo tão abrangente sobre criminalidade violenta (só criminosos armados foram entrevistados mais de 1.800, nas prisões de vários Estados americanos e seus perfis psicológicos e comportamentais foram traçados). E a conclusão foi enfática: desarmar quem presta não diminui criminalidade.

Voltando ao medo maior que o criminoso tem do cidadão armado, há uma lógica, que o estudo revelou: ele pode perceber o policial, que quase sempre está fardado, em sua viatura caracterizada (ou próximo dela), em pontos de parada policial. Tem como evitá-lo. Mas não há como evitar o desastre se assaltar um cidadão que o surpreende reagindo a tiros. É o depoimento dos próprios assaltantes. Não admira, pois, que os bandidos goianos, em dupla, em suas motocicletas e portando seus “três-oitão”, sejam tão confiantes. Sabem que os governos de Fernando Henrique, Lula e Dilma fizeram a parte mais perigosa do trabalho para eles: desarmaram todo mundo (que presta).
Mais uma observação para o coronel Divino e essa ele sente na carne: sei de sua dor quando cai um PM em combate com bandidos. Eu, que não pertenço à corporação, mas torço por ela, além de ser filho de policial, sinto e me revolto a cada soldado morto. Imagino o comandante.
Pois bem: foi de alguma valia, por menor que seja, para a segurança do policial, a promulgação desse malfadado Estatuto do Desarmamento? Diminuiu o poder de fogo dos bandidos? Aumentou a qualidade do armamento da PM? Marginais encontraram dificuldades em se armar mais e melhor por força dessa Lei? Os fuzis mais modernos estão com os bandidos ou com os policiais? O chamado “Novo Cangaço”, em que bandos armados invadem as cidades pequenas, dominam as forças policiais quase desarmadas e explodem bancos mostra alguma coisa? Ao desarmamento da população, somou-se o “politicamente correto” das esquerdas, e policiais e sociedade sofrem imensamente com isso. Exacerbaram-se os direitos humanos do marginal a ponto de ser constrangido o policial que abate um bandido prestes a matá-lo ou a matar um assaltado indefeso. Já o oposto, por absurdo que pareça, não acontece.
Não se vê gritaria de organizações ditas de direitos humanos quando morre um policial vítima do crime organizado, como acontece todos os dias. Respondeu muito bem o coronel Divino Alves, na entrevista, a uma questão nesse sentido: “Um agente do Estado, defendendo a população, na iminência de ser alvejado por um marginal, pode e deve fazer uso de sua arma e matar antes que seja morto”.
Mas faço uma extensão, para que o comandante pense nela, antes de apoiar o desarmamento do cidadão comum também ameaçado: no que um pai de família é pior que o agente do Estado? Por que não pode ele, também, matar para não ser morto, torturado ou vilipendiado por um bandido? É justo que fique inerme enquanto levam seus bens, desrespeitam sua família e ainda o matam, mesmo não reagindo, como vimos muitas vezes acontecer?
E é bom lembrar sempre que é por culpa do “politicamente correto” que não se dá ao policial o que há de mais moderno e letal em termos de armamento, deixando que ele fique inferiorizado em relação aos bandidos que combate. No Rio de Janeiro, o ex-secretário da Segurança José Mariano Beltrame chegou a recolher os fuzis da polícia, e deixá-la armada apenas com pistolas, dizendo que era para evitar balas perdidas. As balas perdidas continuaram, pois saíam (e saem) na maioria dos fuzis dos traficantes, e os policiais lutavam ainda mais inferiorizados.
No correr da entrevista do comandante da PM, um ouvinte afirmou discordar do entrevistado no que dizia respeito ao desarmamento. O coronel Divino, em resposta, afirmou: “Espero convencê-lo a mudar de opinião”. Mas sou eu, coronel Divino, quem aspira mudar sua opinião. Estou certo que o sr. não se aprofundou ainda na questão, e se deixou levar pela maciça propaganda ideológica antiarmas veiculada pela imprensa, quase toda ela de esquerda. Propaganda maciça e mentirosa.
Para fazê-lo, cito, antes de mais nada, uma estatística que está ao alcance de todos, na internet, e que mostra (e não falo de países europeus, cuja cultura é bem diferente da nossa) que não há essa relação direta entre armas e criminalidade. Que a relação, aliás, é inversa. No Uruguai, com uma legislação muito liberal sobre armas, estas são abundantes. Um terço dos uruguaios possui armas. No Brasil, com uma das legislações mais antiarmas do mundo, cerca de 8% dos brasileiros tem acesso a uma arma. Proporcionalmente, pois, há quatro vezes mais armas no Uruguai do que no Brasil. Já a taxa anual de homicídios uruguaia é de 5,5 por 100 mil, enquanto no Brasil chegou a 27,5 por 100 mil — cinco vezes maior.

Em segundo lugar, caro coronel Divino Alves, estou lhe enviando o livro de autoria da dupla Bené Barbosa e Flávio Quintela (“Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento”), e espero que o leia. Eu nunca o enviaria para certas figuras carimbadas do politicamente correto, como, por exemplo, o ex-secretário José Mariano Beltrame, pois seria inútil. Como sei que o coronel Divino Alves tem um quociente de inteligência pelo menos cem vezes maior do que aquela e outras figuras desarmamentistas, fica de pé minha esperança de convencimento.

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